quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Quem sabe faz a hora...


Há manhãs em que o Diabo acorda disposto a cometer maldades. E maldade boa só serve quando envolve inocentes. É a lei escrita no estatuto da criação do Inferno.

A Mulher Invisível, a DAD (diretora a distância), viu seu sangue ferver quando teve sua autoridade contrariada. Como podia um monte de pirralhos atentar contra sua vontade? Logo ela, que fazia tudo por eles! Dava até mamadeira. Não ia ficar por isso não. Todo garoto rebelde merece castigo. Corta-se a água, a luz, e faça xixi nas calças que eu quero ver quem vai limpar! Quem está fora não entra e quem está dentro... só sai! Toda a maldade é pouca quando é para se exemplar!

Não deu certo. A pressão dos professores foi grande e ela teve que dar meia volta-volver nas suas pretensões infernais. Não deve ter dormido, esperando o day after. Explodiria uma bomba atômica, como no filme de Nicholas Meyer, e mandaria tudo pelos ares e somente os seus escolhidos sobreviveriam. 

Seu enredo, porém, esbarrou nos contra-argumentos. Nessa mesma noite de sonhos e pesadelos, a reitora da UFAL (Universidade Federal de Alagoas), cuja instituição havia sido ocupada à tarde, reconheceu a legitimidade do movimento de ocupação. Uma declaração assim, vinda de uma reitora que é o centro de uma constelação, era o tiro de misericórdia nas pretensões da DAD (vou repetir para quem esqueceu: “DAD” significa ‘diretora a distância”), apenas um buraco negro a sugar a luz em Inferno, desta vez, um filme ainda em cartaz. Nenhuma maldade explícita poderia ser justificada. Então, como boa cinéfila, lembrou-se de outro filme: Avatar¹. Poderia promover maldades por osmose.
Entrou em campo o time do contra, com provocações deliberadas, principalmente aos professores que apoiam o movimento. Toda ação, exige reação, dizia Newton. Outro Newton, não o que foi síndico no meu condomínio. Filmem! Filmem tudo!, dizia ao id, ego e superego uma voz inaudível e incendiária. Filmaram. Editaram. E a nobre DAD pegou um filme editado, que só mostra um professor reagindo ao achincalhe da tropa de choque do Rei Avatar, e saiu distribuindo no varejo e no atacado, no ciberespaço. Chegou até os cafundós do judas, onde notícias só chegam a cavalo, e um matuto, sem saber do que se tratava, me disse: “Se eu fosse pai desse moleque dava uma surra de cacete nele, que era pra ele aprender a respeitar os mais velhos, principalmente, os professores!” O feitiço virou-se contra o feiticeiro.

Apesar de ser DAD de um campo acadêmico, esqueceu-se a nossa nobre deusa que clips editados não têm valor jurídico. Nem acadêmico. Nas edições a gente mostra apenas aquilo que a gente quer que se veja. Como a Globo faz. Infelizmente a representante máxima da instituição Ifal-Maceió, segundo suas próprias palavras, desceu ao nível dos reacionários dos sites sociais na intenção sórdida de desqualificar um movimento que merece o aplauso de todos nós pelo ineditismo do fato e pelas intenções envolvidas. Esses garotos não estão produzindo desordens como sugerem alguns; estão construindo cidadania à revelia do Estado que se nega a garantir seus direitos constitucionais.

Nota de rodapé: ¹O presidente do grêmio estudantil, um avatar da diretora, arrogante ptolomeísta e que se acha o centro do universo. Sua autoridade de grande líder fora atingida por farpas traiçoeiras da desobediência civil. E logo ele, um líder exemplar, que tem os poderes de transformar a instituição acadêmica em um clube social, não importando se alunos são prejudicados ou não pelo “paredão” sonoro formado onde deveria se ouvir apenas a voz dos professores em aula. 

A minha primeira e única experiência com o avatar da DAD se deu quando fui ao grêmio estudantil convidar alguns alunos para participar de uma comissão para denunciar o abandono do Ifal – Maceió ao reitor. Explicado os motivos, ele subiu no panteão olímpico e vaticinou:
- Não precisa ir lá. Eu já fui em 2014.


“Eu já fui em 2014”. Resume-se todo o seu poder numa única frase. Felizmente, para o bem da maioria, ele foi voto vencido. Como no caso da ocupação.

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